CORRUPÇÃO: QUEM É A FAVOR LEVANTE A MÃO

Algumas vezes, ser contra a corrupção é simplesmente uma forma de se inserir em um determinado contexto social. Nas redes sociais, ser contra é reproduzir certa ‘formação de opinião’ imposta goela abaixo via compartilhamentos e frases de efeito. A pergunta que fica é: quem é a favor da corrupção? Até hoje não conheci sequer uma pessoa que tenha dito ser favorável. Portanto, a 'solução' para o problema não é tão simples quanto parece.
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“Sou totalmente contra a corrupção”.
Essa máxima espalhada nas redes sociais via compartilhamento de frases de efeito tem sido a tônica das eleições 2014. A pergunta que fica é: quem é a favor da corrupção? Até hoje não conheci sequer uma pessoa que tenha dito ser favorável. Dito isso, podemos concluir: a solução para o problema da corrupção parece ser mais complexa do que aparenta.
Ululante, todas as pessoas envolvidas em casos de corrupção devem ser julgadas e condenadas pelos seus atos dentro do que a nossa lei estabelece, mas também sou contrário à pré-julgamentos e a condenações antecipadas, pois compreendo que no meio político há enormes interesses envolvidos e, muitas vezes, a disputa é extremamente desleal: “o poder enlouquece aquele que o detém”. Sendo assim, uma vez comprovado o ato, poucos discordam que a punição deve ser aplicada tanto para A quanto para B, mas será que é assim na prática? O que temos visto com bastante estranheza é a relativização dada pela imprensa e reproduzida pelas pessoas quando o assunto é ‘suspeita de corrupção’, os exemplos abundam e não caberia aqui nesta breve nota sobre o que entendo por corrupção.
Infelizmente (ou não) não podemos (ou nem devemos?) mudar as pessoas, os seres humanos são naturalmente diferentes, enquanto uns praticam atos ilícitos, outros não. Uns são corruptos, outros não. Sou adepto a não generalização nesse ponto, este princípio faz com que eu individualize tais atitudes. Individualizar, portanto, é não generalizar – “a ciência nos ensinou o dom da generalização, mas esqueceu de nos apresentar o que há entre uma ponta e outra”. Quando o assunto é corrupção, o mais prudente é “dar nomes aos bois”. Não é razoável transferir culpabilidade: “a responsabilidade é sempre do outro”, “o brasileiro é assim”, “a culpa é do Fidel”.
Não compactuo com posições dogmáticas em que determinados indivíduos ou grupos de pessoas se colocam ‘acima do bem e do mal’. Por isso, não creio que partido A e/ou B ou governo X e/ou Y sejam, a priori, corruptos, mas sim que ‘cicrano’ (integrante de um determinado grupo político) tenha cometido atos à margem da lei - sem nos esquecermos da corrupção privada, aquela do dia-a-dia, alguém? Um parêntese para as leis: é mister entender que as leis não são dadas naturalmente e não podem ser tampouco estáticas, elas existem e têm data de nascimento, ou seja, o que hoje é ilegal, amanhã pode ser legal e vice-versa. Quero dizer com isso que algumas das nossas leis eleitorais estão defasadas e, por isso, atitudes corriqueiras são tratadas como ilegais, embora sejam ‘moralmente aceitas’ como, por exemplo, o lobby. Faz-se necessária a compreensão da rápida mudança que vivemos para que possamos atualizar os nossos códigos sem excessos. “Onde há excesso de leis, há escassez de moral”.
Por que a nossa percepção sobre a corrupção mudou? Qual é a diferença fundamental nos últimos anos?
A principal diferença é que agora ‘eles’ são julgados e condenados e a imprensa divulga isso, embora não sem interesses por trás dessa “boa fé” e algumas dezenas de centenas de jornais vendidos. Realmente, não é falácia quando dizem que em outros momentos “era tudo varrido para debaixo dos panos”. A nossa história recente mostra que um dos momentos de maior incidência de corrupção ocorreu exatamente em um governo ‘fechado’, ou mais precisamente, no regime ditatorial. É evidente que no governo cívico-militar brasileiro havia muita corrupção, não é razoável pensar ao contrário, mas a falta de liberdade do judiciário, do legislativo e da imprensa deu a falsa sensação de que a ditadura brasileira ‘venceu a corrupção’.
A mudança precípua é, portanto, quantitativa. Em outras palavras, o quanto ‘isso’ aparece para o cidadão e o que o Estado faz com ‘isso’? Atualmente, se prende políticos corruptos, vide caso inédito julgado pelo STF, e outros poucos exemplos. Concomitantemente, ainda falta a isonomia necessária para que nossa democracia possa evoluir. Isonomia resulta em estabelecer direitos e deveres iguais para todos, usando os mesmos critérios. É uma cobrança necessária.
Não é a forma de governo que ditará a condição humana. A história novamente mostra que sempre houve corruptos e corruptores, independente da estrutura de governo, passando pela polis grega, pelo império romano, até as democracias escandinavas. Por isso, não podemos condenar a todos ou culpar ‘o sistema’, é preciso aceitar que a corrupção é intrínseca ao homem: “o poder transforma em Calígula quem quer que o detenha”. Consequentemente, ninguém está imune a isso - direta ou indiretamente.
Por outro lado, é preciso que as nossas instituições democráticas tenham o mínimo de previsibilidade quando o assunto é corrupção. Presumir que indivíduos podem se valer de expedientes escusos é o primeiro passo para criar mecanismos de prevenção, embora eu acredite que não há ‘cura’ definitiva para tal problema e, por isso, estaremos sempre dois passos atrás. O caminho é uma via de mão dupla: de um lado a punição, de outro a educação.
Em se tratando de eleições, nenhum candidato, por mais que tente, pode ser visto como paladino da verdade. Nenhum partido tem o ‘remédio’ definitivo para a corrupção, quem disser isso está usando de má fé - outra faculdade do ser humano. Não somos anjos! Desconfio sempre de candidatos que se apresentam como militantes da autoridade moral, sabemos a fonte dessa moral.
Todavia, podemos apontar avanços no que diz respeito à transparência. Atualmente, algumas ferramentas são bastante úteis para o acompanhamento do cidadão. O “Portal Transparência” é um bom exemplo disso. Estas e outras ferramentas são mais benéficas do que o simples ‘apontar de dedo’. A autocrítica também é um bom instrumento contra a corrupção. Possivelmente, o problema da corrupção não está (somente) nela em si, mas em como nós a encaramos. Relativizar, a meu ver, é o pior dos mundos; dois pesos e duas medidas é lugar comum para quem não está de fato preocupado com o problema. Não há, nestes poucos parágrafos, a tentativa de impor determinados padrões morais, mas em um ambiente democrático, o que faremos com a corrupção?
Por fim, parafraseando um importante autor francês: ‘a única revolução possível’ - e esta sim ajudaria a resolver alguns dos nossos problemas – ‘é a revolução moral’. Bem influenciado por outro (alemão), completo: a transvaloração de todos os valores é, talvez, a única chance de criar novos valores éticos e morais. Ainda que a humanização do homem não implique necessariamente em arquétipos ideais.
caverna com http://obviousmag.org/

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